Pessoas com deficiência visual se emocionam com a magia do Natal de Joinville por meio de audiodescrição e experiências inclusivas

Publicada em 01/12/2025 às 17:53
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Viver a magia do Natal passa pelo encantamento que a decoração, as luzes e o ambiente colorido proporcionam. Mas como é essa realidade quando não é possível enxergar? Com as experiências inclusivas oferecidas pelo Natal de Joinville, este é o terceiro ano em que grupos de pessoas com deficiência visual podem sentir esse encantamento e compartilhar com amigos e familiares as mesmas experiências de quem vê.

A noite de domingo (30/11) foi especial para cerca de 12 pessoas que contaram com as habilidades de uma audiodescritora, o auxílio de guias voluntários, a sensibilidade das mãos para conhecer a decoração natalina de Joinville e o empenho da equipe organizadora do Natal de Joinville em evoluir a cada ano em uma proposta cada vez mais inclusiva e acessível.

A visita guiada com audiodescrição teve início por uma das novidades do Natal de Joinville 2025: o Bosque Encantado – Caminho de Luzes, no jardim do Museu Nacional de Imigração e Colonização.

“O processo da audiodescrição começa muito antes da visita guiada. Quando os espaços já estão montados, vou nos locais, faço meus registros, tiro dúvidas. Depois eu faço um texto e detalho o que as pessoas podem ver ao visitar esses espaços. A gente faz uma audiodescrição mais divertida, mais interativa. Descreve a forma dos ambientes, os detalhes, as cores, os objetos”, conta a audiodescritora Cibele Barreto.

Ao passar pelas ruas, o grupo recebeu informações que vão além da decoração natalina, como funcionamento do comércio e detalhes sobre as praças. Isso porque os participantes têm diferentes faixas etárias e ocupações, sendo desde crianças até idosos.

“Temos uma preocupação em sermos inclusivos com todas as faixas etárias. Vamos mostrando que essa decoração conversa entre si. Por exemplo, na Casa do Papai Noel, a gente resgata o que tem de decoração lá com o que tem nas ruas, que são o carrossel, o Fritz, que faz parte da nossa cultura e assim a pessoa consegue fazer sua própria ligação e criar seus conceitos. Basicamente é entregar um trabalho que a pessoa consiga entender e interagir com o ambiente, realmente sentir e ver com as mãos onde eles estão”, explica Cibele.

A visita guiada com audiodescrição passou pela Praça Nereu Ramos, transformada na Praça das Artes, Travessa Dr. Norberto Bachmann, onde há a Praça de Alimentação e o Boulevard de Natal.

Depois, os participantes visitaram o Mercado de Natal, na Praça da Bandeira, onde também está instalado o carrossel. Dali, o grupo foi até a Praça Dario Salles, que recebe a Vila do Papai Noel, com atrações como a Casa do Papai Noel, a árvore natalina e a Estação da Neve, com a tradicional neve artificial. E por fim, o grupo viveu a experiência de patinar no gelo.

Experiências que fortalecem vínculos familiares

Bernardo Pontes Bertão, de 9 anos, foi uma das crianças que participou da atividade e se divertiu com as brincadeiras. Ele teve como guia a pequena Isabele Barreto Pavesi, que tem oito anos e é filha de Osmar Pavesi e Cibele Barreto, dois dos idealizadores da atividade, junto com a diretoria do Instituto Natal de Joinville.

“O Bosque Encantado é muito legal. Tem um monte de coisas, tem até bolha de sabão que eu gostei muito dessa parte. E o portal de fitas, os troncos, é muito legal”, comenta o menino que estava acompanhado da mãe.

“É muito gratificante porque quando a gente vinha ao Centro passear, ele me perguntava o que eram as luzinhas, como funcionavam, como são esses formatos. A gente tentava descrever, mas não é a mesma coisa que ter esse espaço de inclusão, uma audiodescritora para explicar em detalhes. Por mais que a gente, como mãe, saiba lidar, é diferente ter um profissional. É muito gratificante, sensacional”, elogia Cleisy Kely Pontes ao contar que este é o segundo ano que a família participa da atividade e que depois o filho fala por muitos dias sobre a experiência.

Para o professor de tecnologia da Ajidevi, Ricardo Mario Stuhler, momentos como este devem ser aproveitados. “Como sempre, uma experiência maravilhosa e marcante. A decoração deste ano está extremamente bonita, então tudo me chamou a atenção. Tudo está perfeito. A gente vive num mundo que é pouco inclusivo, então cada oportunidade como essa devemos aproveitar, sempre”.

Moradora do bairro Paranaguamirim, Daniela Schel Veiga perdeu a visão de um dos olhos em 2016 e depois, durante a pandemia, a outra vista também foi afetada em decorrência de uma doença chamada hipertensão intracraniana idiopática. Esta foi a primeira vez em que ela e a família puderam aproveitar o Natal de Joinville.

“É minha primeira vez fazendo a visita. Eu gostei de tudo. Foi um momento muito interessante porque foi a primeira vez para mim sendo deficiente visual e a primeira vez que a gente trouxe a nossa pequena, de três anos. Foi surpreendente para a família toda. É uma experiência inesquecível viver isso em família, para não perder essa experiência do Natal, da cumplicidade familiar”, destaca Daniela, que veio também com o esposo Everton e o filho Gabriel de 19 anos.

Uma das últimas a deixar a pista de patinação no gelo, Daniela conta como é a experiência e faz um convite para quem quiser ter a mesma vivência.

“A minha experiência de patinar no gelo está sendo magnífica, jamais esperava algo assim. Patinar no gelo é muito difícil. É um medo, misturado com adrenalina. Mas eu indico para quem puder vir, trazer a família, aproveitar. Vale demais, seja para quem é deficiente, para quem não é, para guardar na memória e no coração”.

Natal de Joinville promove inclusão e acessibilidade

Acessibilidade e inclusão são pilares do Natal de Joinville. O diretor executivo, André Guesser, explica que a comunidade com deficiência visual é convidada a participar da atividade, assim como outras pessoas com deficiência também podem aproveitar o Circuito Natalino.

“O Natal de Joinville vem aumentando as ações de acessibilidade. Já fomos reconhecidos com um prêmio de boas práticas em inclusão e acessibilidade. Temos profissionais na sala sensorial que dão suporte durante o evento, além de intérprete de libras. As praças possuem QR Code que direciona para uma audiodescrição daquele ambiente. Então a qualquer momento a pessoa pode acessar. O carrossel e a pista de patinação também são atividades adaptadas para pessoas com deficiência”, reforça Guesser.

As visitas guiadas com audiodescrição começaram em 2023, como uma forma de atender uma demanda da comunidade cega.

“Conversando com o Instituto Natal eu falei que seria interessante se a gente pudesse realizar uma visita guiada com audiodescrição em tempo real para pessoas cegas. Porque a decoração é algo abundante, que chama a atenção. Mas a pessoa cega precisa tocar ou ouvir. Na época foi acatada a ideia e tivemos uma visita. Ano passado tivemos duas e esse ano teremos três”, comenta Osmar Pavesi, um dos organizadores da visita guiada com audiodescrição e integrante da Sociedade Cultural Braille.

Outras duas visitas guiadas estão programadas para os dias 5 e 13 de dezembro, a partir das 18h, com ponto de encontro também no Museu Nacional de Imigração e Colonização. As vagas estão praticamente preenchidas, mas quem ainda tiver interesse em participar, pode falar com Osmar Pavesi pelo WhatsApp (47) 99945-4969.

“A receptividade é excelente, neste ano já temos mais de 30 pessoas inscritas. O Natal é um evento que aglutina toda a família, e assim como eu tenho uma menina de oito anos, várias pessoas cegas têm filhos pequenos e é bacana poder conversar com eles sobre o que a gente mais gostou. Quando ela fala do Papai Noel, do Bosque, a gente sabe interagir porque teve essa interação. Nós temos uma diversidade muito grande de faixa etária, nível socioeconômico, pessoas que perderam a visão recentemente, que já nasceram cegas, então existe essa diversidade, mas o que temos em comum é o desejo de participar, de interagir, de receber a informação daquilo que está acontecendo na cidade”, ressalta Pavesi.

Anexo ao Ginásio Abel Schulz, a organização do Natal de Joinville mantém um Espaço de Acomodação Sensorial e acolhimento para receber pessoas com deficiência, gestantes, idosos e lactantes, por exemplo. No local é possível se hidratar, descansar e pegar a fita de identificação que garante acesso preferencial nas atrações, além de receber informações sobre as ações de acessibilidade.

Promovido pela Prefeitura de Joinville e realizado pelo Instituto Natal Joinville, o evento conta também com o apoio de entidades e empresas privadas, que acreditam no poder transformador da cultura, do turismo e da tradição.

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