“Eu sou maior do que era antes, estou melhor do que era ontem”, ressoa a letra da música de Milton Nascimento cantada pelo grupo Claves de Sois, na abertura da Semana Municipal de Conscientização e Orientação sobre a Saúde Mental, que começou na segunda-feira (19/5), no Teatro Juarez Machado, e reuniu profissionais da área da saúde, acadêmicos, usuários dos serviços e familiares.
Até o dia 23 de maio, a Semana reúne grupos de interesse que vivenciam a saúde mental no seu dia a dia, trazendo novas abordagens, desafios e iniciativas como a do grupo Claves de Sois, formado por usuários dos Serviços Organizados de Inclusão Social (SOIS) que, por meio da arte, têm a possibilidade de desenvolver um novo papel social, cantando em hospitais, e estabelecer um processo de cura mais humanizado e multidisciplinar.
“Acreditamos que o cuidado à pessoa em sofrimento mental precisa ser múltiplo, diverso e construído no coletivo, compreendendo cada pessoa como sujeito inserido em um contexto, um cuidado em modelo aberto e comunitário. Nesta união de forças entre políticas públicas, quem ganha é a sociedade, principalmente as populações minorizadas”, destaca a gerente de Serviços Especiais e Saúde Mental da Secretaria da Saúde, Ana Caroline Giacomini, durante a abertura.
“Esta programação traz para o nosso cotidiano práticas potentes e emancipadoras, tendo a Atenção Psicossocial como diretriz”, reforça.
Sabrina Luppe, terapeuta ocupacional com mestrado em saúde mental e atenção psicossocial, iniciou a programação da Semana com a palestra “Reforma Psiquiátrica: Lutas Contemporâneas”.
A fala trouxe o contexto histórico da reforma e grandes marcos que fortaleceram esse movimento até culminar na Lei 10.216/2001, que estabelece os direitos das pessoas com transtornos mentais e propõe um novo modelo de assistência e atenção, que organiza e integra os serviços de saúde mental no âmbito do SUS e promove uma atenção humanizada, universalizada e integrada.
“É sempre importante rever a reforma psiquiátrica para que a gente entenda e também lute pela manutenção desse modelo de atenção psicossocial que temos e ficarmos atentos às questões que podem vir a ameaçar os avanços conquistados”, avalia Sabrina, que também atua na docência universitária do curso de Terapia Ocupacional.
Ela também destaca, entre as lutas do mundo de hoje, os estigmas e preconceitos em relação à saúde mental, as epidemias de diagnósticos e a medicalização da vida, além do mundo digital.
“Temos vivenciado nos últimos anos mudanças sociais, culturais e políticas e, principalmente, do acesso à informação. A tecnologia tem trazido à sociedade informações que podem gerar uma falsa ideia de que as pessoas passaram a entender o que é um processo de adoecimento mental ou passaram muitas vezes até a se autodiagnosticar”, alerta.
“Tem um lado muito positivo de ampliar o conhecimento de pessoas que de fato precisam de atenção em saúde mental, de tratamento e buscam por isso. Por outro lado, é preciso estar alerta para a banalização desses diagnósticos”, conscientiza.
Caminhada e tarde cultural enfatizam luta antimanicomial
A tradicional caminhada da Semana Municipal de Conscientização e Orientação sobre a Saúde Mental faz alusão ao Dia Nacional da Luta Antimanicomial (18/5) e será realizada no dia 22, com o intuito de integrar, sensibilizar e acolher, reunindo usuários, familiares, simpatizantes e profissionais da área.
A caminhada tem saída às 9 horas da Praça da Bandeira, com destino à Católica SC, onde a programação vai até o meio-dia, com oficinas temáticas. Para esta atividade, não é necessária inscrição prévia.
Outra atividade aberta a todos os públicos e sem inscrição prévia é a Tarde Cultural, promovida pelo Instituto Ímpar e que encerra a programação da semana.
O evento será no dia 23 de maio, das 14 às 18 horas, no Espaço A.Z. (Rua Tijucas, 401, Centro), e reúne artistas, usuários da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), familiares e profissionais da saúde mental.
A programação contempla apresentação do Grupo de Teatro Louco É Pouco, artistas convidados, oficinas culturais, roda de conversa, feira de economia solidária e show de talentos.
Semana promove atividades até o dia 23 de maio
Até o dia 23 de maio, a Semana Municipal de Conscientização e Orientação sobre a Saúde Mental tem o propósito de sensibilizar a comunidade sobre o preconceito na saúde mental, promover debates, inclusão e capacitação. A programação contempla palestras, oficinas e capacitações gratuitas direcionadas para profissionais da saúde, assistência social e educação, além de acadêmicos e público em geral interessado no tema.
As capacitações acontecem de 20 a 23 de maio, na Univille e na Faculdade Anhanguera. Entre os temas tratados estão: novas abordagens, transtornos da aprendizagem e do desenvolvimento infantil, redução de danos, dependência de jogos, plantão psicológico, uso racional de medicamentos, adolescência e saúde mental, transtornos alimentares, entre outros.
Para se inscrever e conferir a programação completa é só acessar o link no site da Prefeitura de Joinville (bit.ly/SaudeMental2025).
Rede de Atenção Psicossocial de Joinville
A Secretaria da Saúde de Joinville (SES) oferece uma Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) completa, com serviços especializados e equipes multidisciplinares dedicadas ao acolhimento e tratamento de pessoas em sofrimento mental. A rede é composta por profissionais qualificados, incluindo, psicólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, profissionais de enfermagem e médicos psiquiatras.
A rede de serviço especializada conta com unidades de referência de acordo com a modalidade de atendimento, com acesso gratuito e multidisciplinar.
Os Centros de Atendimento Psicossocial CAPS II Nossa Casa e CAPS III Dê Lírios promovem atendimento especializado para pessoas com transtornos mentais graves, agudos ou crônicos, incluindo crises psicológicas, com foco na reabilitação psicossocial, promovendo autonomia e reinserção social. O suporte é terapêutico e médico.
Já o CAPS AD (Álcool e outras Drogas) oferece atendimento integral a pessoas com dependência química (álcool, crack, etc.), por meio de um tratamento humanizado, com estratégias de redução de danos e reinserção social. No CAPS AD, as atividades terapêuticas são diárias, ajudando na recuperação e no fortalecimento emocional.
O SOIS (Serviços Organizados de Inclusão Social) é indicado para usuários que já superaram a fase aguda do transtorno. Este serviço promove a convivência e reinserção social oferecendo atividades de arte, cultura, educação e geração de renda, estimulando a autonomia e qualidade de vida.