Um ano após se tornar a cidade pioneira no Brasil na implementação de um protocolo para emergências hipertensivas na gravidez, Joinville registra avanços com a redução de casos, capacitação de profissionais e no atendimento a gestantes com hipertensão arterial ainda nas Unidades Básicas de Saúde da Família. Mais de 500 profissionais foram capacitados nas áreas da atenção básica, urgência, emergência e do SAMU na cidade.
A pré-eclâmpsia é uma complicação grave na gravidez que pode ocorrer após 20 semanas de gestação. Ela causa o aumento da pressão arterial e presença de proteínas na urina, que podem resultar em complicações graves e riscos para a mãe e o bebê, podendo levar a óbitos.
Em Joinville, não são registrados óbitos maternos por pré-eclâmpsia há 12 anos. Porém, mesmo sem óbitos, antes da implantação do protocolo, a quantidade de casos em que a paciente evoluiu para uma situação mais grave, era maior.
“Entre 2023 e 2024, a gente teve seis casos de eclâmpsia, de pacientes que convulsionaram pré-hospitalar. Ou seja, na residência dela, na atenção primária ou secundária. E após essa capacitação, reduzimos de seis para um caso. Isso mostra a força do protocolo e esse passo importante para a redução de morte materna por síndromes hipertensivas no Brasil”, destaca o médico obstetra Giorgio Conte Tondello, membro da Rede Brasileira de Estudos sobre Hipertensão na Gravidez (RBEHG) e um dos responsáveis pela implementação do protocolo em Joinville.
Desde a implantação em Joinville, o protocolo foi colocado em ação para 13 pacientes diagnosticadas com pré-eclâmpsia grave pré-hospitalar, sendo oito delas só nas Unidades Básicas de Saúde da Família (UBSFs) e outras cinco na atenção secundária, que são as UPAs e PA, por exemplo.
“Lembrado que essa era uma medicação que a gente fazia só na UTI, em paciente internada e agora a gestante consegue receber essa medicação precocemente, quando na Unidade de Saúde é identificada a condição. Joinville foi a primeira cidade do Brasil a implementar o medicamento sulfato de magnésio em toda a atenção pré-hospitalar”, reforça o médico.
O propósito do protocolo é que o profissional de saúde da atenção primária e do pronto-atendimento possa agir preventivamente, identificando com agilidade os sinais de uma pré-eclâmpsia. O sulfato de magnésio é um medicamento seguro e eficaz utilizado em gestantes com sinais de pré-eclâmpsia, como crise hipertensiva, ou gestantes que apresentaram quadro de eclâmpsia.
Laís Concellos, enfermeira que atua na UBSF Leonardo Schilickmann, foi uma das profissionais da Atenção Primária à Saúde capacitadas no protocolo. Ela ressalta que, antes da capacitação, o manejo ficava restrito ao encaminhamento à maternidade.
“A adoção do protocolo já na Unidade Básica é uma ação concreta preventiva que nos dá mais segurança para conduzir o acompanhamento pré-natal e assim orientar e tranquilizar as mães em relação à pré-eclâmpsia. Estamos preparados para iniciar o protocolo sempre que necessário, promovendo um acompanhamento contínuo, seguro e de qualidade para cada gestante”, destaca.
Joinville é cidade modelo do protocolo da pré-eclâmpsia
O obstetra Giorgio Conte Tondello reforça que Joinville foi a cidade modelo do protocolo e, depois do município catarinense, mais de 1,2 mil profissionais em quatro estados já foram capacitados. Outros quatro estados também devem aderir aos treinamentos.
“Melhoramos também a prevenção, com encaminhamentos e identificação de sinais de gravidade”, avalia o médico.
Além da capacitação inicial, a cada seis meses os profissionais participam de uma atualização. Também foi elaborado um material de educação continuada, com assessoria e consultoria online.
O acompanhamento da gestante no pré-natal é essencial para identificar a pré-eclâmpsia de forma precoce e iniciar o protocolo de tratamento, com cuidados que devem se estender durante toda a gestação.